O Macroambiente e o Cenário Underground


























Muita gente vem fazendo uma abordagem simplista demais para tentar buscar respostas de tanto desinteresse do público com as bandas que fazem o cenário underground. Em cada discussão ou debate que se veem procurando respostas, todos, sem exceção, acabam massacrando as bandas no fim. Mas será que a maior culpa é das bandas?

Para começar — e mais uma vez — cenário underground é aquele composto estritamente por bandas autorais. Sim! Pode se enfezar, esbravejar, mas em nenhuma época da história do Rock N’ Roll, se viu cenário constituído de bandas covers. Los Angeles, San Francisco, Seattle, Birmingham, Londres, Liverpool, Belo Horizonte… Enfim, em todos os cenários — ou cenas — a característica crucial que a identifica como tal é a presença de criação, produção artística. Como o cover se inclui na categoria de reprodução, não se configura uma característica de formação de uma cena.

A Cultura Underground

O termo Underground se marginalizou na boca de frequentadores, artistas e, principalmente na de promotores, organizadores e investidores que de maneira pobre, confundem o termo com algo mal feito ou de pouca valia. Underground, no âmbito musical, está diretamente relacionado à quebra de padrões, desvios e alternativas do que se é exposto na sua antítese, o Mainstream. Há uma citação de Frank Zappa que ilustra bem isso: “O mainstream chega até você, mas você tem que ir ao underground”. Os artistas que integram o undeground são os responsáveis por quebrar os padrões da música vigente, alterando a ordem do mercado ao agregar valor com uma novidade ao público. Então o mainstream se dobra àquela nova onda e a retira do underground, na maioria das vezes, desvirtuando-a ligeiramente do seu conceito inicial.

Detalhes

Há um detalhe que se perdeu no meio do caminho, onde qualquer observador com um pouquinho de atenção vai notar. A cena não está necessariamente atrelada ao som que aquele grupo de bandas tocam. Parece que a cena de Los Angeles e San Francisco lá fora e a de Belo Horizonte aqui dentro foram determinantes para levarem esse conceito à risca. Porém, se tivermos um olhar mais a fundo sobre Seattle e inclusive ao que aconteceu no CBGB, vemos que o lance é um bem distinto do que se figura na cabeça da galera.

Sonoramente falando, o que Nirvana e Pearl Jam têm de semelhanças? Blonde e Ramones se assentam em alguma similaridade sonora? E o que dizer da N.W.O.B.H.M — New Wave Of British Heavy Metal? A coisa toda tem mais a ver com um movimento em determinada região do que simplesmente tocar um som semelhante ao que bandas de outro lado do mundo estão fazendo. Reflito muito sobre isso acerca do enfraquecimento midiático que o Rock/Metal tem na mídia com relação a novos nomes.


E o Hardcore?

Dentre todos os subgêneros do Rock, é o único que sobrevive simplesmente porque mantém o significado do Underground em seu cerne. O DIY — Do It Yourself (Faça Você Mesmo) — como prova de fogo. Você pode não ver o Hardcore, mas ele não se dobra, não se cala, não se divide e não tomba. Passará épocas de determinado subgênero, uns morrerão e outros nascerão, mas o Hardcore, fiel à sua conduta, irá perdurar.

Macroambiente

Muitos profissionais, de maneira irresponsável, entregam a mochila cheia de pedras para as bandas, alegando que elas são as responsáveis pela cena acontecer. Acredito ser isso um erro gigantesco, dado um fator em qualquer negócio de fundo de quintal que tenha uma visão, se trabalhe: o Macroambiente.

Para não me alongar muito a respeito, o macroambiente são fatores que organizações, empresas, bandas, mercadinhos, botecos, pubs não controlam. São fatores que ditam as regras para que você possa apontar a proa do barco e velejar. Fatores demográficos, Econômicos, Socioculturais, Político/Legais, Tecnológicos e Ecológicos.

Olhando assim, parece um absurdo eu abordar esse tipo de assunto. Mas quer ver uma coisinha?

Em 2015, o Spotify lançou uma pesquisa em que dizia que ouvintes acima dos 33 anos de idade param de ouvir novas músicas. Já o Deezer, em 2018, realizou outra pesquisa mostrando que a idade em que os ouvintes param de procurar conteúdo novo é aos 28 anos de idade. Você, como artista, não tem como controlar o que isso representa logo de cara. Mas pode trabalhar em filtros sobre as pesquisas, inclusive para atingir essa faixa etária. É só um exemplo dentre os diversos que poderiam ser mostrados. É tudo macroambiente.

Há um grupo de pessoas na sua cidade ou no seu Estado que curte o gênero ou subgênero que você toca? Consegue aferir a quantidade média? Qual a faixa etária dessas pessoas? Essas pessoas curtem outros gêneros descompromissadamente ou apenas o gênero que você toca? Uma série de perguntas que podem retirar a mochila pesada das costas das bandas. E por quê?


Um resultado frustrante

Um promotor de eventos ou uma casa de show possuem um compromisso secundário com a sociedade e que isso se tenha como verdade nas cabecinhas destas pessoas. O lucro é o sustento de uma casa noturna ou de um promotor de eventos e para isso eles precisam de demanda. Esta age conforme uma série de fatores que incluem: crenças, hábitos, aspirações pessoais, relacionamentos interpessoais, mobilidade entre classes e etc. Se dados mostram que a maioria de determinada faixa etária não consome mais música nova, como é que você, com sua banda recém-lançada, com disco, merch, tudo bonitinho, vai ser o único responsável pelo fracasso da noite? Essa conta está um tanto estranha, não acha?

E quando você se dá conta que uma outra pesquisa aponta que o Brasil é o país em que os pais mais tentam influenciar os gostos musicais dos filhos, aí é que você está ferrado. Porque todos vão atirar para cima de você e de sua banda e, sem estar armado, você vai sucumbir.


Estudar

Nessa altura do campeonato pode ser frustrante achar que de nada vai adiantar. Não gosto de ser pessimista com a situação. E por isso a única alternativa que vejo é o estudo. As bandas precisam estudar — falo das autorais — para se manter. Entender sobre finanças, marketing e logística, principalmente esta. Será que é viável você pegar seus amigos e rodar por aí indefinidamente para tocar para 50 pessoas? Quanto vocês vão tirar do bolso para transitar por aí em 10 datas? Não seria mais viável um vídeo clipe? Não atingiria um público maior?

As bandas autorais já viraram uma piada, motivo de memes por grande parte do público. A maioria das casas não querem vê-las nem pintadas de ouro, os promotores não conseguem enxergar uma maneira de se fazer grana com eventos autorais. Então as bandas autorais estão por sua conta e risco. Se você quer construir o seu público, por que você está refém de casa de shows e promotores? Se você realmente tem seu público, se faz o dever de casa com as suas finanças, marketing e logística, a galera irá atrás de você independente de brasões, escudos e crachás.

Quero saber a sua opinião. Vamos trocar uma ideia. Tô no aguardo.

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