A importância do Coletivo L.I.V.R.E. Preto no Metal.
Foto: Indy Lopes
Quando você escuta a palavra Headbanger ou Metalhead, o que lhe vem à cabeça? Já parou para imaginar o quanto a imagem do amante do Heavy Metal está estereotipada?
O Michaelis, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, traz alguns significados interessantes acerca do substantivo masculino “estereótipo”:
Aquilo que se amolda a um padrão fixo ou geral;
Esse padrão é formado de ideias preconcebidas, resultado da falta de conhecimento geral sobre determinado assunto;
Imagem, ideia que categoriza alguém ou algo com base apenas em falsas generalizações, expectativas ou hábitos de julgamento;
Aquilo que não possui originalidade; banalidade, chavão; lugar-comum.
Signos, significados e significantes
Há uma confusão que o brasileiro, em todas as suas matizes, faz por simplesmente comprar uma ideia ádvena que é massificada no seio da nossa cultura. Digo ideia e não produto, para que este texto não caia em paradoxo, devido ao simples fato de nossa cultura existir a partir de um misto de signos, significados e significantes históricos que, muitas vezes, se torna o pé torto da mesa que acaba por não deixar a fruteira equilibrada.
Isso não seria diferente no Heavy Metal. Porque, ao importar o produto, importou-se todos os signos, significados e significantes que permeavam a ideia de Heavy Metal em seus sítios originais.
Há de não olvidar que locais e épocas não são objetos de avaliação fútil e precisam de demasiada cautela para que não sejam torpemente alocados na mensagem e repassados como falsas verdades ao receptor. O que aconteceu nos EUA na década de 70 e 80, aconteceu por causa de peculiaridades locais que divergiram, na mesma época, do que aconteceu no Brasil, por exemplo. E é assim em qualquer lugar do mundo.
As culturas, em tudo o que o termo significa, são diferentes de um país para o outro. Há excentricidades que marcam diferenças entre bairros, cidades, estados e países. No entanto, isso não impede que esses sítios tão díspares possam consumir o mesmo produto. O vício está justamente em absorver os significados em sua totalidade. E por quê? Porque a cultura de um lugar pode ser completamente diferente de outro em todas as suas matizes.
Botsuana e Heavy Metal
Nos inícios de 2013, a BBC divulgou o trabalho fotográfico de Frank Marshall, intitulado “Renegades”, mostrando os Metalheads em Botswana. O impacto é imediato para quem tem em sua mente uma imagem fixa do Headbanger: apenas pessoas pretas em trajes de couro, camisas de bandas e todos os demais significados que os significantes Metalheads e Headbanger trazem, obviamente excluindo a tez e os famigerados cabelos.
Em 21 de agosto de 2014 saiu o Documentário “March of the Gods: Botswana Metalheads”, contando sobre a cena local de Gaborone, capital do país. O Willba Dissidente fez uma matéria no Whiplash a respeito que é muito interessante. Vale a pena conferir.
Após o lançamento do documentário, uma gama variada de matérias a respeito de pretos no Metal começaram a pipocar aqui e acolá, mas nunca com a devida atenção acerca do tempo presente, sobretudo no underground. Geralmente traziam nomes de músicos consagrados e personalidades que figuraram no cenário em alguma época.
Até que surgiu o Coletivo L.I.V.R.E Preto no Metal (site oficial), idealizado por Indy Lopes, Lohy Silveira (Rebaelliun), Dênis Lapuente (Penitence), no cenário underground de Porto Alegre-RS.
Coletivo L.I.V.R.E. Preto no Metal
Originado a partir de uma ideia de Lopes em fazer ensaios fotográficos com pessoas fora do padrão imposto pela sociedade, seja na cultura pop, seja na cultura de rua, obteve a sugestão de Lapuente para que ampliasse os ensaios a outros músicos negros locais, após ver uma foto em que figurava Lohy e Vinícius Rodrigues, músico negro atuante também do cenário de Porto Alegre-RS. Então, Lohy entendeu e percebeu que tudo poderia se tornar um projeto sociocultural.
Em seu site, o projeto destaca o seu objetivo de “proporcionar representatividade ao negro, uma forma de ter voz ativa no Heavy Metal e, assim, fomentar o seu ingresso nesse cenário, incentivando-o a ter uma carreira na música pesada, seja como músico instrumentista, vocalista ou ainda produtor musical”.
Mas qual é a importância do trabalho?
Lembra dos significados? Pois bem. O Brasil é um país com etnias diversas, miscigenação plural, culturas cruzadas e etc. No entanto, isso não se reflete na difusão que se faz do Heavy Metal em nosso país, como se o significado de Heavy Metal aqui também estivesse atrelado aos mesmos significados que em uma Inglaterra ou EUA - estes, ainda, falhos em demonstrar a pluralidade étnica dentro do gênero.
Faça um exercício banal: digite no Google Imagens palavras como “Metalheads”, “Headbanger”, ou - por que não? - até mesmo, “Metaleiro”. Conte quantas imagens de pessoas pretas aparecem em seu monitor. A discrepância é absurda.
Propagar um gênero musical, excluindo fatias consideráveis do público em sua difusão, é criar um estereótipo onde, inconscientemente, elide as pessoas que não fazem parte daquele estereótipo.
A importância do Coletivo L.I.V.R.E. Preto no Metal é evidenciar uma lacuna que pode e deve ser marca representativa do Heavy Metal em um país como o Brasil. Em tempo, é desconstruir uma imagem feita na cabeça dos seguidores do Heavy Metal sobre como é um headbanger e da população em geral, de que Heavy Metal não é lugar para preto.
Os meus agradecimentos a esta iniciativa.
Site Oficial: https://www.pretonometal.com/
E-mail: pretonometal@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/pretonometal/
Instagram: https://www.instagram.com/pretonometal_coletivolivre/
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCyTVa0ouBmZbqjTuLAX-x2Q/
Comentários
Postar um comentário